Todo mundo é administrador? (Parte II)

"Sou forçada pelas circunstâncias a voltar ao tema do primeiro artigo. Diversos acontecimentos me provocaram questionamentos sobre a forma como a gestão é negligenciada pelos governos e pelos próprios administradores que, apesar de serem uma das maiores categorias profissionais do país, seguem apáticos diante do caos.

Caos da saúde cearense, por exemplo, embora pudesse ser citado qualquer um dos estados brasileiros. Semana passada e nessa, notícias revoltantes sobre como a saúde pública é gerenciada nos envergonharam. Como argumento maior sempre apelam para a “falta de recursos”. Sempre faltará recursos em uma gestão sem planejamento, métricas, conhecimento. A economia, sendo a ciência da escassez, já nos alerta que gerir bem os recursos é primordial para alcançar resultados.

Como resposta, o governador Camilo Santana arregimentou um grupo de trabalho para discutirem as possíveis soluções. Sabem quantos administradores tem nesse grupo? Nenhum. O Conselho Regional de Medicina terá seu representante, o que parece óbvio já que o assunto é saúde, ou melhor GESTÃO NA ÁREA DA SAÚDE. O Conselho Regional de Administração não fora sequer cogitado e não se manifestou.

Tergiversando um pouco, li nesses portais de notícias que o marido de uma grande blogueira e que atuava como personal em São Paulo, fora preso por exercício ilegal da profissão em ação movida pelo Conselho Regional de Educação Física. Tal desfecho certamente ocorreria se um administrador quisesse se passar por médico. Nunca entendi porque os diretores de hospital, secretários de saúde precisam ser médicos. Fui olhar a estrutura curricular dos cursos de Medicina, pasmem, não há nenhuma disciplina voltada para gestão, nem mesmo gestão de clínicas.

Como alguém pode exercer a função de gestor sem estar capacitado para tanto? Sim, existem métodos, ferramentas, cálculos, metodologias na Administração que nos qualificam a tomar decisões, otimizar recursos, ter efetividade. Quando o Alexandre Garcia diz que “os ERROS de gestão são mais GRAVES do que a própria corrupção”, pode-se ter uma ideia de que a Administração precisa ser levada a sério. "

Marilda dos Santos Rocha,

Professora universitária da UECE e da UVA.

Este artigo reflete a opinião do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do CAADM.